Vanessa Mateus apresenta pesquisa inédita sobre violência contra a mulher, em evento na Alesp

21 de setembro de 2021

Apenas 29% das mulheres do Estado de São Paulo denunciam seus agressores, 73% sentem medo, 31%, vergonha de levarem o caso aos órgãos oficiais e 59% gostariam que a punição para esses homens fosse a prisão. Estes foram alguns dos dados da segunda edição da pesquisa JUSBarômetro sobre violência contra a mulher, encomendada pela Apamagis e apresentada nesta terça-feira (21/9) pela presidente da Associação, Vanessa Mateus, em evento na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Na ocasião, a Alesp e o Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo) assinaram termo de adesão à campanha Sinal Vermelho Contra a Violência Doméstica, prevendo a mobilização das bases parlamentares e ampliação para todo o Estado de pontos comerciais aptos ao atendimento das vítimas, bem como a adesão de municípios à iniciativa.

A campanha Sinal Vermelho Contra a Violência Doméstica foi criada pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e permite às mulheres pedirem socorro em farmácias e outros estabelecimentos comerciais apenas apresentando o “X” vermelho desenhado na palma da mão. O projeto virou lei federal no final de julho e ganhou apoio formal do governo do Estado de São Paulo.

Ao apresentar a pesquisa, Vanessa Mateus salientou que, em geral, o primeiro lugar entre as respostas da pesquisa se distancia em longa medida dos demais temas citados pelas entrevistadas. Um desses números se refere aos temas que mais preocupam as mulheres. Disparadamente, a violência contra a mulher dentro da sua própria casa aparece em primeiro lugar. “Essa é a primeira resposta para 54% das entrevistadas”, disse Vanessa Mateus. “Como as respostas eram múltiplas, e elas podiam dar mais de uma alternativa, o número de mulheres que mencionaram a violência dentro de casa passa para 69%. Emprego e geração de renda vêm em um longínquo segundo lugar com 8% de primeira resposta. E a violência fora de casa, em quarto lugar, com 6%.”

As mulheres ouvidas pelo Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) na pesquisa encomendada pela Apamagis se mostram preocupadas e acuadas. Entre as mil entrevistadas, a partir de 18 anos de idade e de diferentes classes econômicas, 88% notaram aumento da violência. A impressão, para 66%, é que essa violência acontece dentro de casa, e 77% relatam ter sofrido violência ou conhecer quem a tenha sofrido em casa. Para 63%, o agressor é o cônjuge companheiro ou namorado, seguido de 48% para ex-cônjuge, ex-companheiro e ex-namorado.

No total, 59% querem ver o agressor preso, ante 10% que escolheram medidas protetivas e 9% que apontaram grupos de reeducação. Só 29% buscaram órgãos oficiais e, quase na mesma medida, 24%, recorreram a amigos, vizinhos e parentes.

A pesquisa também mostrou que 52% das mulheres conhecem alguém que sofreu insulto, humilhação ou xingamento. Esse número sobe para 57% entre mulheres negras e 54% entre jovens de 18 a 24 anos. “Isso nos mostra que temos um problema estrutural na sociedade, que decorre de um machismo e de uma sensação de propriedade que vem se repetindo na população mais jovem”, disse Vanessa Mateus.

Ações do Judiciário
Mais da metade das entrevistadas (55%) apontou as Delegacias da Mulher como principal órgão ao qual recorre, quando recorre. As iniciativas do Judiciário também são bem vistas: 70% conhecem, em maior ou menor grau, a campanha Sinal Vermelho Contra a Violência Doméstica e 77% a aprovam. Em outro quadro, 59% reconhecem a Lei Maria da Penha como importante ferramenta no combate à violência doméstica. No entanto, 42% clamam por um atendimento melhor nos órgãos, com mais empatia e mais sensibilidade, e 40% defendem a busca por melhor capacitação de policiais.

A presidente da Apamagis ressaltou que o objetivo desta pesquisa não foi substituir os dados oficiais, mas sim ouvir o que as próprias mulheres pensam sobre tema. “Precisamos saber o que falta, onde estamos errando, para saber por que, embora tenhamos hoje uma imprensa absolutamente dedicada a esse assunto, os Poderes Executivo e Legislativo, a Polícias Militar e Civil empenhados, não conseguimos fazer diminuir esses números. O que nos falta? Então, achamos importante ouvir a vítima para saber qual caminho podemos seguir”, afirmou. Para Vanessa Mateus, é preciso jogar ainda mais luzes sobre o tema.

Adesão
Ainda na cerimônia, a juíza Domitila Manssur, que é diretora da AMB Mulheres, conselheira da Apamagis e uma das idealizadoras da Campanha Sinal Vermelho, representante da AMB na cerimônia, lembrou como foi construída a ação da AMB e do CNJ. E também comentou a pesquisa, dizendo que os juízes se sentem sensibilizados por notarem que muitas mulheres deixam de acionar o sistema de Justiça “por medo de não dar em nada e por terem muita vergonha e receio de serem tachadas pela nossa sociedade, além de não saberem acessar o sistema”.

“Eu, como juíza há 23 anos, aprendi a não julgar. Não podemos julgar a mulher vítima de violência porque são sentimentos completamente contraditórios. Nós, seres humanos, devemos apenas estar presentes”, afirmou.
O presidente da Alesp, deputado Carlão Pignatari, classificou de “um absurdo” o quadro de violência doméstica apresentado na pesquisa da Apamagis, e que é preciso mostrar indignação, sempre, diante dessa realidade. Dirigindo-se a Vanessa Mateus, afirmou que a Associação poderá contar sempre com a Alesp e prometeu ampliar a divulgação da campanha Sinal Vermelho em todos os canais de comunicação do legislativo paulista, além de levar o projeto a prefeitos do Estado.

Presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Abuso e Violência Domésticos, a deputada Damaris Moura se disse muita impressionada com os dados da pesquisa: “Nós já conhecíamos muitos números, mas estes da Apamagis reforçam ainda mais a urgência, a importância de mais um equipamento de defesa das nossas mulheres acessíveis a todas”.

Ana Claudia Badra Cotait, presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da Facesp, disse que a entidade irá mobilizar todo o comércio de São Paulo, por meio das 420 associações comerciais do Estado, para aderir à campanha Sinal Vermelho.

“Eu digo sempre que uma mulher só sai de uma situação vulnerável se ela conseguir gerar renda e empreender. Este é nosso foco, estimular o empreendedorismo feminino, estimular a mulher a empreender a se formalizar, a montar um negócio, a fazer o que ela gosta, a gerar renda. Isso aumenta a autoestima e ela sai de uma situação vulnerável, sim. Contem com a Cemec e com a Facesp”, afirmou.

Vanessa Mateus destacou a importância do engajamento da Alesp à causa e disse que a adesão do CMEC “vai ser um passo importantíssimo, comparável à adesão do governo do Estado e, agora, da Assembleia Legislativa”.

Clique aqui para ver a pesquisa JUSBarômetro na íntegra

Confira aqui o vídeo da cerimônia.

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