Brazil Conference: Renata Gil discute pioneirismo das mulheres no Judiciário

A baixa representatividade das mulheres ocupando cargos de poder, em especial na magistratura, foi o tema de debate entre a presidente da AMB, Renata Gil, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) ministra Carmem Lúcia, e a juíza federal Adriana Cruz durante a 8ª edição da Brazil Conference, organizada pela comunidade brasileira de estudantes em Boston (EUA). O evento aconteceu no último final de semana e fez parte da agenda de compromissos da presidente da AMB nos Estados Unidos. Desde a primeira edição da Brazil Conference, em 2015, essa é primeira vez em que a Associação dos Magistrados Brasileiros é convidada a participar.

Durante o painel “Instigando o pioneirismo feminino no judiciário”, Renata Gil contou que uma pesquisa recente da AMB evidencia que até 2010 houve uma ascensão de mulheres na carreira da magistratura, mas depois disso houve um decréscimo. “Não sabemos o motivo, mas imagino que não haja uma única causa. A carreira é difícil para mulheres, que muitas vezes precisam abdicar da vida pessoal para se dedicarem à magistratura. A colocação de mulheres em espaços de poder inspira várias outras e é importantíssima. Precisamos olhar onde falta caminho da igualdade e trabalhar para isso”, enfatizou Renata Gil.

A presidente da AMB também relacionou a busca pela igualdade de gênero ao combate à violência contra a mulher. Renata Gil destacou duas ações afirmativas da entidade na gestão dela: a Campanha Sinal Vermelho de combate à violência contra as mulheres, e o resgate e acolhimento das juízas afegãs. “Enviamos ao mundo a mensagem de que o Brasil é um país solidário, que tem preocupação com a igualdade e que assumiu responsabilidade grande de trazer para uma cultura totalmente diferente essas mulheres que estavam sendo ameaçadas de morte”, acrescentou.

No mesmo painel, a ministra do STF Cármen Lúcia falou sobre a importância de abrir caminho para mais representação feminina na Justiça. “Somos o que somos porque outras foram e se deram a ser. E as que virão depois de nós serão o que serão a partir do que nós pudermos oferecer (…). Falo de mulheres que lutaram pela liberdade, pela igualdade. Que não perguntaram se era possível, mas que fizeram porque achavam que tinham que fazer. E muitas vezes não são lembradas”, destacou.

Já a juíza federal Adriana Cruz afirmou que o Judiciário tem um apagão de dados sobre representatividade feminina e de negros, apesar do esforço do CNJ. “Como podemos pensar em participação feminina e pioneirismo em caminho para um judiciário diferente se não temos sequer retrato de quem são os magistrados e quais são os entraves para que esse grupo chegue nesse espaço?”, ressaltou. A magistrada também disse que o Judiciário ainda é extremamente machista, racista, misógino e que “inviabiliza que mulheres possam estar nesse espaço, mesmo aquelas que chegaram em igualdade de condições”.

Brazil Conference

A 8ª edição da Brazil Conference reuniu, em dois dias, lideranças e pesquisadores de diversos setores para discutir a “reinvenção brasileira” em meio ao arrefecimento da pandemia e à proximidade da corrida eleitoral, além de debater temas como o combate à pobreza e a preservação do meio ambiente.  O evento é organizado pela comunidade brasileira de estudantes em Boston (EUA) e apoiada pelas universidades Harvard e MIT. As atividades ocorreram presencialmente no Hyatt Regency Cambridge Hotel (Boston) e foram transmitidas pela TV Estadão e pelo canal do YouTube da organização.

Fonte: AMB